REPÚBLICA e LAICIDADE

Encenação de «Auto de Fé» na escola de Oleiros (Castelo Branco)?

A 10 dias da data prevista para o começo da iniciativa «Bíblia Manuscrita Jovem» – uma acção que, em óbvia (e ilegal) atitude de proselitismo, visa envolver – 30 mil alunos e professores de 200 escolas – do país na produção de cópias manufacturadas da Bíblia – continuam por esclarecer as questões que, sobre o assunto e há já mais de um mês, a associação Republica e Laicidade colocou ao Ministro da Educação.

O caso é grave e tanto mais quando se verifica que, nos estabelecimentos de ensino oficial, se continuam impunemente a cometer os maiores atropelos ao princípio da Laicidade que deve enformar a Escola Publica, quando as práticas correntes continuam a ser as da manutenção – ou mesmo do fortalecimento – de uma presença e ingerência abusivas da Igreja Católica nos mais diferentes domínios da vida escolar.

Em entrevista ao jornal Publico (edição de 31 de Janeiro), sugerimos que, como contraponto às encenações escolares da actividade dos monges copistas da Bíblia nos «Scriptorium» do séc. XIV – simulações previstas pela iniciativa da Sociedade Bíblica – , nos estabelecimentos de ensino também se providenciasse, por exemplo, à representação de «Processos de Inquisição» e de «Autos de Fé» do Tribunal do Santo Ofício…

Apercebemo-nos entretanto de que a ironia daquela proposta não terá sido bem entendida por todos e, mais concretamente, pela Escola Secundária de Oleiros (Castelo Branco) que, interpretando aparentemente à letra a nossa sugestão, acaba de levantar um processo disciplinar a um dos seus professores (Filosofia) sob a acusação de práticas de «livre pensamento», de «ateísmo» e de «satanismo»…!

Luis Manuel Mateus

(Presidente da Direcção)