Antero (TarquÃneo) de QUENTAL
Ponta Delgada (Açores), 18-04-1842; Ponta Delgada, 11-09-1891
Jurista, escritor (poeta, ensaÃsta e filósofo), doutrinador e propagandista republicano e socialista.
A Ideia – Força é pois ir buscar outro caminho! / Lançar o arco de outra nova ponte / Por onde a alma passe – e um alto monte / Aonde se abra à luz o nosso ninho. // Se nos negam aqui o pão e o vinho, / Avante! é largo, imenso, esse horizonte… / Não, não se fecha o Mundo! e além, defronte, / E em toda a parte há luz, vida e carinho! // Avante! os mortos ficarão sepultos… / Mas os vivos que sigam, sacudindo / Como o pó da estrada os velhos cultos! // Doce e brando era o seio de Jesus… / Que importa? havemos de passar, seguindo, / Se além do seio dele houver mais luz!
Formou-se (1864) em Direito na Universidade de Coimbra, mas foi como homem de letras que se notabilizou. Durante a juventude, publicou poemas, artigos e ensaios nos periódicos Preludios Literários, O Académico e O Instituto. Em Coimbra, estudante ainda, fundou e presidiu a Sociedade do Raio, uma organização secreta que liderou lutas académicas na época. Datam também desse perÃodo o seu interesse pelos movimentos sociais e político s então emergentes na Europa e a sua adesão aos ideais socialistas, sobretudo informada pelos textos de Proudhon e Hegel. Editou os livros de poemas Sonetos de Antero (1861), Beatrice (1863) e Fiat Lux (1863).
Publicou (1865) uma Defesa da Carta EncÃclica de Sua Santidade Pio IX Contra a Chamada Opinião Liberal, onde, ironicamente, apoiou o Papa e a sua posição intransigente contra as aspirações liberais das sociedades modernas – EncÃclica Quanta Cura e Syllabus de Errores (1864) – e se congratulou com a decadência desse modo evidenciada pela Igreja Católica. Desencadeou também uma importante polémica estética e literária com a publicação do texto Bom Senso e Bom Gosto: Carta ao Ex.mo Sr. António Feliciano de Castilho (1865), onde, em oposição ao lirismo ultra-romântico, defendeu uma missão social para a literatura. Os poemas escritos durante esses anos de grande empenhamento político foram coligidos no livro Odes Modernas (1865).
Depois de uma tentativa gorada para se alistar nos exércitos revolucionários de Garibaldi (1866), de uma passagem por Paris, onde trabalhou como tipógrafo, e de uma viagem aos Estados Unidos e Canadá (1869), retomou a actividade em Portugal, militando no fomento do associativismo operário e escrevendo artigos para os jornais Diário Popular, Jornal do Comércio, Republica, Primeiro de Janeiro, Pensamento Social, etc..
Organizou (1871), juntamente com Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Jaime Batalha Reis e Oliveira Martins, entre outros, as Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, iniciativa que veio a ser proibida, mas onde ainda lhe coube fazer o discurso inaugural e apresentar uma exposição sobre as Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos (1871) responsabilizando a Igreja Católica e a Monarquia por aquela situação. A intransigência do governo motivou uma veemente Carta ao Ex.mo Sr. António José de Ã?vila, marquês de Ã?vila, Presidente do Conselho de Ministros.
Com José Fontana, Azedo Gneco, Jaime Batalha Reis, etc., fundou (1872) a Associação Fraternidade Operária, associação que representou em Portugal a Primeira Internacional Operária e publicou, anonimamente O que é a Internacional; O Socialismo Contemporâneo, o Programa da Internacional; a Organização da Internacional; as Conclusões (1871). Editou então o livro de poemas Primaveras Românticas (1872).
Entrou entretanto (1874) num perÃodo marcado pelo pessimismo, com crises de depressão e mesmo de desespero. Continuou a escrever e a publicar obras de ensaio e de poesia: A Poesia na Actualidade (1881), Sonetos (1881), Sonetos Completos (1886), A Filosofia da Natureza dos Naturalistas (1887), Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX (1890), Raios de Extinta Luz (1892). Dirigiu ainda, com Batalha Reis, a Revista Ocidental (1875) e, na reacção ao Ultimato inglês, aceitou (1890) a presidência da Liga Patriótica do Norte.
Instalou-se (1881), durante um tempo, em Vila do Conde, perto de Oliveira Martins, onde encontrou uma relativa calma mas, regressado a Ponta Delgada (1891), acabou por se suicidar.
Terá sido iniciado mação, em 1863 ou 1864, em Coimbra.
[LMM]
acesso a: doc/R&L (pdf) | R&L/WIKI
acesso ao texto: Causas da decadência dos povos peninsulares